sexta-feira, 29 de julho de 2011

_Dona Leonooooooooor!

De posse de um documento que precisava urgentemente ser entregue, rumei apressadamente a uma cidadezinha vizinha, à procura de uma tal Leonor dos Anzóis (uso "dos Anzóis" para um sobrenome cuja identidade desejo preservar ou quando não me recordo mesmo do sobrenome verdadeiro). Não tive nenhuma dificuldade para chegar ao endereço, precisamente indicado. Para a alegria de meu pai, que acha uma grosseria gritar o nome das pessoas para chamá-las, no local não havia campainha. Então, à finíssima Lady nada restou senão chamar pela destinatária do documento. Comecei timidamente, em tom quase que gutural, batendo palmas e falando rapidinho:
_Dona Leonor! Dona Leonor!
Nada. Ninguém.
Caprichei nas palmas e aumentei o volume de 2 para uns 5,5, mais ou menos:
_Dona Leonoor! Dona Leonoor!
Do local ninguém veio, mas a vizinha do lado botou a cara para fora, rapidamente, e deu um sorrisinho, sem nada dizer, voltando ao seu castelo. Deixei a timidez de lado, aumentei meu volume ao máximo e, com toda a força que a minha taquara rachada permitiu, gritei a plenos pulmões:
_Dona Leonooooooooooooooooooooor! Dona Leonoooooooooooooooooooooooooooooooooorrrrrrrrrr!
Foi quando, da casinha situada lá nos confins do terreno, surgiu uma senhorinha que devia ter uns oitenta e tantos anos, bem magrinha mas muito arretada, que, com um vozeirão de fazer inveja ao William Bonner, chamou alguém lá de dentro:
_Nonôôôôô! Nonôôôôô! Tem uma moça aqui . E tá "le chamano de mulé"!
E saiu então o "seu " Leonor, cabra macho, de cuja cara não consigo me lembrar tamanho o constrangimento por ter lhe alterado o gênero. Gafe imperdoável. Com cara de poucos amigos, praticamente arrancou-me o documento das mãos, assinando após o "X" e devolvendo-me a prancheta num gesto nada amistoso. Virou-se de costas e, ofendidíssimo, retornou para seu claustro. Fiquei ali, sozinha se não fossem alguns passantes e vizinhos que nem percebi estarem ali, curiosos e rindo da situação.
Então, um conselho precioso àqueles que porventura se depararem com uma casinha sem campainha em cujo interior exista uma pessoa desconhecida que necessitem, por estrito cumprimento do dever legal, chamar: NÃO USEM ARTIGO DEFINIDO ANTES DO NOME! Gritem, esperneiem, chorem, clamem com toda a força de suas gargantas SOMENTE O NOME DA PESSOA. Nunca se sabe quem virá atender a porta.

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